segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

ENTIDADES CONTESTAM O VALOR DO PISO ATUAL


A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e sindicatos de professores, entre eles o do Estado de Pernambuco (Sintepe) e o da Rede Municipal do Recife (Simpere), contestam o valor do piso nacional do magistério. Para essas entidades, o salário inicial dos docentes, conforme a Lei que instituiu o benefício (nº 11.738), deveria ser, já no ano passado, R$ 1.132 e não R$ 950.

Para chegar a esse valor, a CNTE e os sindicatos seguem o artigo 5º da lei, que determina que o piso “será atualizado, anualmente, no mês de janeiro, a partir de 2009”. Ainda conforme a legislação, o índice de reajuste é baseado no custo-aluno do Fundeb, que ano passado foi 19,2%. “É lamentável que, após um ano e meio da lei, não se saiba, consensualmente, qual o valor do piso do magistério. Em 2009, o piso não era R$ 950, mas sim R$ 1.132,40”, diz o presidente da CNTE, Roberto Leão.

A diferente interpretação desse artigo foi um dos impasses entre os professores estaduais e o governo de Pernambuco, durante greve, em 2009, que durou 25 dias. O Estado foi o primeiro do País a pagar o piso do magistério, mas não reajustou os R$ 950, como determina a lei, valendo-se de uma nota técnica do Ministério da Educação, avisando que a correção deveria ser feita em 2010, quando completaria um ano de vigência do piso.

Atualmente, um professor da rede estadual, com formação de nível médio, recebe R$ 950 para carga horária de 200 horas. Quem tem nível superior ganha R$ 1.016. “Não é verdade que o Estado paga o piso. Isso seria correto se o salário inicial fosse R$ 1.132”, destaca o presidente do Sintepe, Heleno Araújo. A Secretaria Estadual de Educação reafirma que a obrigatoriedade do reajuste começa este ano. Está agendada para a última semana de janeiro a primeira rodada de negociação salarial de 2010, que definirá o percentual de aumento.

Segundo o secretário de Educação do Recife, Cláudio Duarte, desde julho de 2009 os professores municipais recebem dois terços do piso (a lei permitia que isso ocorresse até dezembro), já considerando o valor de R$ 1.132. Como a carga horária de Recife é de 150 horas, um docente com magistério ganhava, até dezembro, R$ 755,45 (valor proporcional à carga horária). A partir deste mês, com os 100% do piso, receberá R$ 822,15. Para nível superior, a remuneração era, em dezembro, de R$ 1.083 e passará, a partir deste mês, para R$ 1.178,85.


Fonte: Jornal do Commercio


Contato do Blog: Sinezio13123@hotmail.com

domingo, 10 de janeiro de 2010

QUEM TEM MEDO DO FILME "LULA, O FILHO DO BRASIL"?‏


Todas as prevenções possíveis foram propaladas pela imprensa mercantil: “Cuidado, o filme (piegas, para eles, como tudo o que é do povo), tenta pegar você pelo sentimento, pelo sofrimento da mãe nordestina (ainda mais que feita pela cativante Gloria Pires), é um filme populista, a cara desse governo”. Um funcionário da empresa dos Frias (a Força Serra Presidente) diz que prefere Vidas Secas, do Graciliano. (Tem tanto a ver quanto dizer que, aos “2 filhos de Francisco”, eu prefiro Sacco e Vanzetti).
Só para tentar desqualificar algo que incomoda profundamente a elite branca, assumidamente sulista (do Sul maravilha do Henfil, que os estaria gozando mais do que nunca hoje), racista, separatista (ao estilo de 1932, quando diziam que São Paulo era “a locomotiva do país”, que puxava tantos vagões de gente que não queria trabalhar, mas viver às custas dos paulistas, daí o separatismo e o “Não sou conduzido, conduzo”, seu lema na época).
Poderiam ter feito outra coisa: um filme com a biografia do FHC. (Como reclamam que o programa do PT fez a comparação do governo Lula com o do FHC, então devem fazer o próximo programa tucano fazendo a sua comparação dos dois governos.)
O filme é lindo e emocionante, porque trata de uma trajetória de vida linda e emocionante. E vitoriosa. (Ao contrário do belíssimo Vidas Secas, mas que trata da grande maioria dos nordestinos, especialmente até bem pouco, derrotados.) As novelas invisibilizam os nordestinos, quando são retratados, em geral pela literatura, às vezes pelo cinema, são focalizados no seu sofrimento ou em alguma saída individual, mágica, que não passa pela política. Senão seria um convite à ir à luta.
E Lula, sua vida, incomodam, porque é um nordestino vitorioso. Não apenas porque passou por todos os sofrimentos e perdas que a grande maioria do povo brasileiro passa. Mas porque as superou, chegou a presidente da República, derrotando candidatos da direita e começou a mudar a vida das pessoas que, como ele, nasceram na miséria, que são a grande maioria, porque as elites reproduziram um país para poucos, para eles.
Entre tudo de extraordinário que acontece na Bolívia atualmente, seu vice-presidente, Alvaro Garica Linera, destaca especialmente um breve diálogo entre Evo Morales e um menino de origem indígena, quando Evo lhe pergunta o que ele quer ser quando crescer e ele responde: “Presidente”. Num país em que, apesar de dois terços da população se considerar indígena, até 4 anos atrás nunca um indígena tinha sido eleito presidente.
Depois de Lula, um menino pobre, da nordeste ou da periferia das nossas grandes e opulentas metrópoles, com as misérias que as cerca, podem pensar em ser presidentes do Brasil.
O filme é sobre dona Lindú, porque nas famílias pobres, sofridas, a vida da mãe é indissoluvelmente a vida dos filhos e vice-versa. É um belo filme, porque é uma bela vida, tratada com sensibilidade e com afeto. Numa família pobre, o personagem central é a mãe, que cuida dos filhos, os educa, trata de que possam tocar sua vida da melhor maneira, sobre com eles e por eles.
Lula é o filho de dona Lindú, por isso é o filho do Brasil, como homenagem a todas as donas Lindú que batalham, sofrem e riem – como ela ri, numa das cenas mais emocionantes do filme, quando Lula recebe o diploma de torneiro mecânico -, vivem e morrem com e pelos seus filhos.
Têm medo de Lula todos os que têm medo do povo, do povo brasileiro, dos seus personagens – que eles tratam de esconder na sua imprensa, na sua cultura, nos seus discursos. Tê m medo de Lula, porque sentem que lhes estão roubando um país que sempre sentiram como seu. De repente um nordestino, imigrante pobre, que perdeu um dedo na máquina, como operário nordestino, promove os direitos de gente como ele, que sempre foi postergada – “inimpregáveis”, segundo FHC, “essa raça”, para Bornhausen.
Vale muito a pena ver o filme. Pelas emoções que ele transmite e para nos darmos conta um pouco mais do que significa Lula ter sido eleito presidente e governar com o apoio de mais de 80% dos brasileiros, especialmente de todos os filhos de dona Lindú.
Emir Sader
Artigo publicado no Jornal Água Verde


Contato do Blog: Sinezio13123@hotmail.com